domingo, 12 de outubro de 2008

Cap 65 - Próxima edição

Lincoln Albuquerque estava recostado na cadeira de sua sala, com Bia Lacerda aplicando uma bolsa de gelo em sua cabeça. Sempre ignorando as proibições, ele fumava no ambiente fechado. Chico Antônio lia a edição especial com tiragem limitadíssima que correu em algumas delegacias durante a madrugada para convencer alguns policiais a acompanharem a equipe de reportagem até o apartamento do deputado. “Poderiam ter escolhido outra foto para a capa”, lamentava Chico, mesmo sabendo que a edição for a fechada às pressas.

Carlos Santa Cecília estava ao telefone. Avisava à ex-mulher e à filha que já era seguro retornar ao Brasil, mas que a decisão cabia unicamente a elas. Com um lenço, o colunista limpava o sangue que ainda escorria do nariz e lhe sujava o bigode.

Todos na sala pensavam nos perigos que assumiram na cobertura do retorno de Armando Paglia ao Brasil. Alguns, como Carlos e Lincoln, sabiam exatamente os riscos que corriam. Outros, como Bia e os estagiários, nem faziam idéia do quanto a quadrilha de Dom Armando poderia ser perigosa.

No fim das contas, Paglia não foi preso pelas ameaças a Santa Cecília e seus colegas, mas apenas pela morte do deputado. Apesar de uma série de relatos repletos de testemunhas, a polícia preferiu acreditar que os jornalistas apenas acrescentaram ação à narrativa para valorizar seus trabalhos.

Os possíveis prêmios que encheram os olhos de alguns no início da cobertura nunca vieram. Pelo contrário; todos no Primeira Página foram muito criticados pelos riscos a sujeitaram a si mesmos e aos colegas. Mas outros jornalistas reconhecem a qualidade da cobertura de Carlos e dos outros.

Ainda naquele mesmo dia, cinco parlamentares subiram ao plenário para render homenagens ao deputado. Na frente da televisão, sempre atento, Santa Cecília anotou o nome de cada um deles. Ninguém elogia um corrupto se não estiver envolvido em esquema semelhante. “São meus próximos alvos”, pensou Carlos.

Quase na hora do almoço, Cosme Fagundes voltou ao jornal ao lado de Catarina Casaverde. O e-mail encontrado pela editora na casa do deputado, somado ao depoimento da mãe de Leninha de que ela teria um caso com o parlamentar, ajudou a inocentar Fagundes. Além disso, informações passadas pelo garçom Genaro e por freqüentadores do restaurante próximo ao Primeira Página preencheram as lacunas restantes.

Assim que o relógio apitou meio dia, todos pegaram suas coisas e se levantaram.
- Aonde vocês pensam que vão?, indagou Lincoln.
- Almoçar — respondeu Bia.
- E dormir — acrescentou Carlos.
- Dormir? — assustou-se o diretor de redação. — Vocês só podem estar brincando. Quero todo mundo de volta até uma da tarde. Nós temos a edição de amanhã para fechar.

Santa Cecília não conteve o riso diante do desespero de Lincoln.
- Não posso falar por eles, meu amigo, mas falo por mim. Boa noite, Lincoln!
- Carlinhos…? Carlinhos, volte aqui!

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