segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cap 64 - Quebra-cabeça

Quando Paglia e Marco chegaram à delegacia, foram separados. Dom Armando permaneceu calado durante mais de uma hora, quebrando o silêncio apenas para pedir um advogado. Já Marco abriu a boca rapidinho e contou tudo o que sabia.

O plano de Paglia começara a ser posto em prática alguns anos antes, ainda na Itália, quando o mafioso recebeu a notícia de que seu filho havia sido assassinado durante o motim na prisão. À distância, ele ordenou que seus capangas se preparassem e avisou ao deputado que a quadrilha voltaria para seu controle.

Armando convenceu Tomasi a ajudá-lo e enviou o italiano para o Brasil com alguns meses de antecedência à sua chegada. O tempo deveria ser utilizado para identificar a rotina de Carlos Santa Cecília e seus possíveis aliados. Todas as informações eram repassadas ao deputado, que até pediu licença de suas responsabilidades em Brasília para se dedicar à vingança de Paglia.

Na verdade, desde o começo, Gianni Tomasi era apenas um instrumento e não o homem de confiança de Paglia. Durante todo o tempo, era Marco quem estava à direita do padrinho e provavelmente seria seu sucessor se o plano de matar Santa Cecília e cometer suicídio tivesse se concretizado.

Marco passou semanas seguindo Tomasi, sem que o italiano soubesse de sua existência. O objetivo era garantir que Gianni não faria nenhuma besteira. Quando Tomasi matou Bronson e Braddock, os temores de Armando haviam se mostrado plausíveis; o italiano estava chamando mais atenção do que deveria.

Durante a perseguição de Tomasi a Carlos e, posteriormente, de Ramos a Tomasi, Marco manteve-se todo o tempo atrás, a uma distância segura. Quando o italiano entrou no prédio próximo ao aeroporto, o afilhado de Paglia já sabia para onde ele iria: o escritório que controlava toda a movimentação de drogas e armas nas fronteiras do país, onde Tomasi recebia os pagamentos enviados pela quadrilha de Armando na Itália.

Marco se posicionou estrategicamente no edifício vizinho. Seu objetivo era matar Tomasi e quem o perseguia, para evitar que o italiano fosse preso e ao mesmo tempo garantir que ele não fizesse mais besteiras. Mas Marco identificou Ramos como sendo o oponente de Gianni. O capanga preferido de Armando conhecia a reputação do policial e sabia que se ele morresse, os esquadrões da morte da cidade caçariam o responsável e o fariam pagar pelo crime.

Em relação à morte de Leninha no apartamento de Fagundes, a armação era do deputado o tempo todo. O objetivo dele era eliminar todos os aliados de Santa Cecília. Havia planos preparados também para Bia, Catarina e Lincoln, mas as declarações de Renatinho Gordo fizeram Armando pular estas etapas.

O deputado, sem se identificar, convidou Fagundes para um almoço, oferecendo informações sobre o caso. E de fato, o parlamentar contou tudo o que sabia, mas durante a conversa, colocou um comprimido na bebida do jornalista. O “boa noite cinderela”, como era chamado, fez com que Fagundes quase apagasse ali mesmo no restaurante.

Na saída, o deputado se encontrou com Leninha, com quem também tinha marcado, e pediu para que ela o ajudasse a levar Fagundes para seu apartamento. O deputado já pretendia acabar seu relacionamento com a jovem há alguns meses, com medo que sua mulher descobrisse. A esposa do parlamentar já estava desconfiada e pretendia se divorciar, caso suas dúvidas se confirmassem. O deputado não estava disposto a perder metade de tudo o que tinha e ainda correr o risco de ter suas falcatruas divulgadas por uma ex-mulher vingativa.

Com Fagundes desmaiado sobre a cama, o deputado matou a amante. Utilizando informações colhidas por Tomasi, ele sabia o horário em que seria mais fácil sair do edifício sem ser visto. Já em seu carro, ligou para a polícia se passando por um morador e reclamou de alguns gritos no apartamento do jornalista.

O resto é história.

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