Quando viu as iniciais, Carlos deu um pulo. Precisava contar para alguém. De um lado estava Lincoln, seu amigo e confidente, o único que apoiava suas escolhas. Do outro, Bia, com quem não tinha a melhor das relações. Até Santa Cecília se surpreendeu quando foi contar primeiro para a colega repórter.
- Sabe o que é isso?, desafiou Carlos.
- O que?
- Estas iniciais — respondeu, apontando “D.A.”, em um dos documentos. — São as mesmas que assinam a carta que eu recebi. É Dom Armando, a prova que a gente precisava para mandar o Paglia para trás das grades.
- Lembra do cara que queria a transferência?, perguntou Bia, referindo-se a Renatinho Gordo.
- O que tem?
- Ele era um dos que cuidaram do cativeiro da sua ex-mulher. E ele me contou tudo o que sabia sobre o seqüestro. Disse que o Paglia recebia em casa vários traficantes e que em uma dessas visitas disse que queria dar uma lição em você, para que não se metesse mais onde não é chamado.
- Pelo visto não deu certo — interrompeu Lincoln, que ouvia a conversa de longe.
- Além do mais — prosseguiu Carlos — ele vai mudar o depoimento quando for comprado pelo Armando.
- Não vai, não. Ele está jurado de morte porque é pedófilo. A transferência era pra mantê-lo distante da antiga facção. Se ele mudar o testemunho, corre o risco de ser mandado para uma prisão comum, e disso ele morre de medo.
- Acho que já dá para começarmos — encerrou o diretor de redação.
Santa Cecília e Bia Lacerda sentaram-se lado a lado, buscaram suas anotações e juntos escreveram a matéria. Lincoln, logo atrás, revisava o texto em tempo real. Quando o ponto final riscou o papel, o diretor selecionou algumas fotos de Chico Antônio e ordenou que o material fosse para a gráfica imediatamente. Carlos nem quis esperar um contínuo. Foi sozinho até as máquinas e entregou o disco com a página pronta e a primeira página para a impressão imediata.
- Quer tomar alguma coisa, Carlinhos?, convidou Lincoln.
- Não posso… Só saio daqui com o jornal na mão — disse Carlos.
- Então está bem… Eu já vou.
- Às seis esse jornal estará na sua porta, Lincoln. E eu estarei lá para entregar.
- Às seis você vai estar dormindo, Carlinhos. Dormindo.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
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