quarta-feira, 23 de julho de 2008

Cap 5 - Os estagiários

Juliana Hosenfeld viu na cobertura do retorno de Dom Armando uma oportunidade de ouro. Quando Santa Cecília falou em prêmios, seus olhos brilharam. Ela imaginou-se ainda estagiária participando de uma cobertura premiada. Era o passaporte que ela precisava para ir para qualquer editoria.

Cobrir cidade nunca esteve nos planos de Juliana. Além da faculdade de jornalismo, ela fazia curso de teatro, dava canja em um grupo de MPB de um amigo, pintava e fazia esculturas. Entendia de balé, ópera, música erudita, dança contemporânea. Era o tipo de pessoa que nasceu para falar de cultura. Mas os editores acharam que seria boa idéia lhe dar um choque de realidade. Por isso, uma vez por semana, ela ia para a porta de alguma delegacia descobrir porque algum político, policial ou empresário havia sido preso.

- Acho que vou entrar nesse caso do Dom Armando — ela disse.
- Sério?, se espantou Pacheco Filho.

Pacheco também não queria escrever para cidade. Mas para falar a verdade, ele não queria escrever para editoria nenhuma, não queria trabalhar em jornal, não queria nada. Tinha a perfeita vocação para ficar o dia inteiro a toa. Gostava de surfar, dar uma volta de bicicleta, encontrar os amigos no clube. Mas acabou estudando jornalismo por causa do pai.

Matias Pacheco, o pai, era uma dessas instituições do jornalismo. Acumulava uma larga lista de feitos. Passou alguns anos como correspondente no exterior e foi editor de alguns veículos. Conseguiu estágio para o filho com Lincoln, de quem é muito amigo. O diretor de redação faz o que pode, mas todos já perceberam que o lugar de Pacheco Filho não é no Primeira Página.

Mesmo assim, o estagiário acordava cedo todos os dias e acabava ficando na redação mais do que o necessário. O motivo tinha nome: Juliana Hosenfeld. Pacheco nutria uma certa paixão pela colega, que nunca foi revelada porque ela entoava o mantra de que namoro no trabalho sempre prejudica a mulher. Talvez esta fosse uma oportunidade de os dois se aproximarem.

- Bom — refletiu ele — talvez seja uma boa idéia…

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