segunda-feira, 21 de julho de 2008

Prólogo

Já passava das 23h. Como de costume, o velho colunista era um dos últimos a abandonar a redação. Só ia para casa após conferir o primeiro exemplar impresso para saber se tudo o que escrevera saíra correto. Carlos Santa Cecília tomava um café já frio e vestia seu paletó quando um contínuo se aproximou. "Carta para o senhor", ele disse. Não era comum receber cartas. Todos sabiam o quanto ele era antipático. Diziam algumas lendas entre os coleguinhas que só conseguia fechar sua coluna porque as fontes tinham certo medo dele.

Com uma faca que guardava na gaveta, ele abriu o envelope. Estranhou a ausência de remetente e chegou a pensar: "Se isso for anthrax é bem feito para mim". Puxou de dentro o papel e leu com calma. Quando chegou ao final, num susto, derrubou o copo de café semivazio. Os respingos sujaram sua calça, mas aquela não era mais uma preocupação.

Santa Cecília puxou o celular do bolso e apertou o send. Lincoln Albuquerque, o diretor de redação, era o único com número salvo no aparelho do amigo.

- Lincoln? Você não vai acreditar no que eu recebi. Marque uma reunião urgente para amanhã de manhã e convoque sua melhor equipe.
- De manhã? Carlinhos, todo mundo sabe que você só acorda depois do almoço.
- Fique tranqüilo, Lincoln. Acho que hoje eu nem vou dormir.

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